O 2.º Colóquio Organizar, Preservar e Comunicar a Memória da Arquitetura – Os Arquitetos e os Arquivos de Arquitetura de Portugal, Inglaterra e Brasil, realizou-se a 20 de abril de 2022, entre as 17h00 e as 19h30, através da plataforma Zoom, sendo divulgado em direto, pelo Facebook e Youtube do CIDEHUS.UE – Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora, com o objetivo de permitir uma maior difusão.
Com a coordenação científica e moderação de Paulo Batista, investigador integrado do CIDEHUS.UE, o programa desta iniciativa contou com as seguintes participações:
João Rocha: DArq/EArtes e CIDEHUS/UÉVORA;
Pedro Guilherme: DArq/EArtes, CHAIA e UÉVORA;
Sérgio Padrão Fernandes: Universidade de Lisboa, Faculdade de Arquitetura, CIUAD, formaurbis LAB;
José Fonseca: Casa da Arquitectura – Centro Português de Arquitectura;
Luís Martinho Urbano: Fundação Marques da Silva;
Monica Frandi Ferreira: Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro (São Paulo/Brasil);
Paulo Batista: (CIDEHUS-UÉVORA).
![Cartaz](https://www.archivozmagazine.org/wp-content/uploads/2022/06/Cartaz-1-scaled.jpg)
Considerando o número de participantes, em número de seis, seguido das conclusões, solicitou-se a cada conferencista que falasse, durante cerca de 10 minutos, da sua experiência de investigação (no âmbito do seu mestrado, doutoramento, ou qualquer outra investigação ou projeto desenvolvido, finalizado ou em curso) em arquivos de arquitetura, dando a sua opinião sobre os mesmos, ao nível da organização, preservação e difusão da memória da arquitetura, enfatizando, por exemplo, as dificuldades, os desafios e as oportunidades nesse processo, mas também as evidências, em termos de publicações, projetos de investigação, exposições, etc., geradas a partir daí, para além, naturalmente, de outras questões que cada orador entendesse como sendo relevantes para esta temática.
Esta iniciativa afirma-se como complementar ao Congresso Ibero-Brasileiro sobre Arquivos de Arquitetura: da organização à difusão da informação, que se vai realizar a 21 de setembro deste ano, também através da plataforma Zoom, com difusão em direto, pelo Facebook do CIDEHUS.UÉ., que contará com a participação de responsáveis de serviços de informação arquivística, que têm à sua responsabilidade arquivos de arquitetura, de Portugal, Espanha e Brasil.
Neste colóquio foram apresentados os seguintes temas ou iniciativas:
– Oito arquivos do Reino Unido (Londres e Cambridge);
– Os projetos “Ligar Arquivos – Investigar sobre a Malagueira” e “formaurbis LAB – Os arquivos e a construção do atlas morfológico da cidade portuguesa”;
– Os acervos, espólios e projetos da Casa da Arquitectura;
– O processo “Identificação de um arquiteto – José da Cruz Lima”, da Fundação Marques da Silva;
– O “Relato de experiência na pesquisa e na gestão de um arquivo municipal no Brasil”, no caso o Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro, no estado de São Paulo.
Findas as 6 apresentações, Paulo Batista fez um comentário transversal às mesmas, começando por salientar que é fundamental um maior diálogo e proximidade, trabalho de equipa, mesmo uma parceria, entre arquitetos e arquivistas, no sentido em que ambos são parte integrante deste processo que vai da produção à difusão da documentação de arquitetura, o que passa por exemplo, como foi salientado, pela normalização dos termos de arquitetura. De facto, os primeiros, os arquitetos e os atelieres de arquitetura, como produtores desta documentação, e os segundos, os arquivistas, pelo trabalho que desenvolvem no âmbito da mesma, nomeadamente, a sua organização, descrição, conservação, preservação, acesso e comunicação. É fundamental ter em conta que os arquivos particulares de arquitetos são, por regra, acervos de grande dimensão, que facilmente atingem as dezenas de milhares de documentos, com suportes muito diversificados e frágeis, como é o caso do papel vegetal, o que por sua vez tem grandes implicações no que respeita à sua conservação e preservação, por exemplo, em termos de acondicionamento, em que se destacam, pela sua dimensão, as maquetes. Por outro lado, tratando-se de acervos muito grandes, por vezes com documentação bastante para além dos desenhos produzidos pelos arquitetos, ou seja, com documentação complementar, que está, de alguma forma, relacionada com um determinado projeto, concorrendo para ajudar à sua compreensão, ou a conhecer o respetivo impacto na sociedade, como sejam, textos publicados na imprensa da época, postais, fotografias, correspondência, etc., que permitem, por vezes decisivamente, considerando a ausência desses mesmos desenhos (plantas, alçados, cortes, etc.), a compreensão do respetivo projeto. Envolvendo a mesma dinâmica, estes espólios normalmente chegam aos arquivos de forma desorganizada, obrigando a um profundo e moroso trabalho de reorganização de cada projeto, o que implica a afetação de, pelo menos, um técnico para o desenvolvimento das supraditas funções arquivísticas, muitas vezes por um período de tempo considerável, pelo que é aconselhável, pelo menos em serviços de informação arquivísticos que têm um grande volume documental à sua responsabilidade, ou seja, com muitos outros fundos e coleções, como é habitual verificar-se, que seja efetuada uma descrição ao nível do projeto, em vez de tal ser feito descendo ao nível do documento simples. De facto, também aqui deverá ser feita a devida ponderação, com o objetivo de compreender até que ponto é que “compensa”, para o respetivo arquivo, desenvolver uma descrição ao nível do documento, de fundos, que, como assinalado, facilmente atingem as dezenas de milhares de documentos, para mais tratando-se de acervos que não têm uma procura massiva, pelo contrário, o utilizador que normalmente procura esta documentação é facilmente identificável, ou seja, fá-lo, por regra, no âmbito de dissertações de mestrado, teses de doutoramento, projetos de investigação em geral.
Uma nota, ainda no âmbito dos arquivos privados de arquitetos, para a existência de projetos não identificados e não concluídos, para além de que se temos arquitetos e atelieres que organizaram bastante bem a documentação relativa à sua obra edificada, por vezes isso não acontece no que respeita à documentação de projetos que não passaram disso mesmo, ou seja, do papel.
Pelo contrário, no que respeita aos processos de obra particulares a questão é totalmente diferente, considerando que se trata da documentação mais produzida pelos serviços de qualquer município, a mais procurada e a que origina maior número de pedidos de reprodução pelos utilizadores destes arquivos, justificando uma muito maior afetação de colaboradores, recursos financeiros, técnicos, etc. Nos processos de obra particulares os concernentes pedidos de consulta e de reprodução referem-se maioritariamente à consulta de antecedentes com vista à realização de obras na própria habitação, mas também para fins de investigação, ou apenas porque querem ter o projeto na sua posse e saber como o edifício onde residem foi construído, para além do pedido frequente das licenças de utilização, requeridas na maior parte dos casos para efetuar escrituras, como sucede no Município de Lisboa, já que são condição para o efeito, ou dos
Em menor número verificam-se pedidos relativos a plantas, por norma, relacionados com o IMI ou com avaliações, e devem-se a questões legais, como a obrigatoriedade de apresentar essa informação em tribunal, a par de outros relacionados com a compra e venda de casas, em que as pessoas querem saber se estas possuem obras ilegais, ou para ver a classificação da obra (por exemplo, se é de interesse público), porque há determinadas zonas, como se verifica em Lisboa, em que se efetuarem obras de beneficiação têm direito a benefícios fiscais e, finalmente, em que as administrações dos prédios pretendem confirmar a cor do prédio dos respetivos prédios, em vista à realização de obras.
Em resumo, os processos de obra particulares, para além do seu valor primário (probatório, fiscal, legal e administrativo), caraterizam-se por uma extraordinária riqueza e diversidade informacional, sendo indispensáveis para a compreensão da obra projetual e edificada, ou seja, para o estudo da evolução urbanística e arquitetónica de qualquer cidade, pelo que a complementaridade dos arquivos privados de arquitetos e dos processos de obra particulares é fundamental, para, tanto quanto possível, a compreensão de um determinado projeto de arquitetura.
Por último, importância assinalar a necessidade de os arquivos apostarem na difusão da informação à sua responsabilidade, o que é feito, como aqui foi apresentado, através de exposições, publicações de instrumentos de acesso à informação, como catálogos, guias, inventários, etc., a par dos serviços educativos com atividades dirigidos aos vários públicos, do infantil ao sénior, ou uma aposta, cada vez maior, na comunicação através das redes sociais, entre outras iniciativas.
Em termos gerais, tendo em conta as muitas e ricas pistas deixadas nas apresentações, foram estes os aspetos destacados.
Este evento encontra-se disponível, para memória futura, no Facebook do CIDEHUS.UÉ: https://pt-pt.facebook.com/cidehus/videos/789238378716402
![Paulo Jorge dos Mártires Batista](https://www.archivozmagazine.org/wp-content/uploads/2022/02/118095873_3654784954555356_6078592618426047442_n-1.jpg)
Paulo Jorge dos Mártires Batista
Investigador integrado do CIDEHUS.UÉ – Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora.
Doutor em Documentación (Universidad de Alcalá de Henares – UAH). Mestre em Ciências da Informação e da Documentação (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa – FSCH-UNL). Máster em Documentación (UAH) e Diploma de Estudios Avanzados de Doctorado em Bibliografia y Documentación Retrospectiva en Humanidades (UAH). Pós-graduado em Direito da Sociedade da Informação (Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa) e em Ciências da Informação e da Documentação – Biblioteconomia e Arquivística (FCSH-UNL). Especialização em Boas Práticas em Gestão Patrimonial e em Ciências da Informação e da Documentação – Arquivística (FCSH-UNL). Licenciado em História (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa).
Atualmente desempenha funções de Técnico Superior no Arquivo Municipal de Lisboa, de Professor Convidado no Curso de Especialização Arquitetura e Cultura Visual em Lisboa (UC “Arquivos de Arquitetura: do documento à difusão” e “Fontes de arquitetura e produção de conhecimento”), do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, de Professor Convidado no Curso de Pós-Graduação de Museologia (UC “Arquivos e Museologia”), da Universidade Autónoma, e de Investigador do CIDEHUS.UÉ – Centro Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora, para além de formador na BAD – Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas, Profissionais da Informação e Documentação, em Arquivos de Arquitetura, e da Câmara Municipal de Lisboa, em Introdução às Técnicas Documentais. É Secretário da Comissão Executiva da Secção de Arquivos de Arquitetura do Conselho Internacional de Arquivos.
Foi docente no Mestrado de Ciências da Informação e da Documentação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa, técnico superior no Instituto Português do Património Cultural, no Instituto Português do Património Arquitetónico/Palácio Nacional de Queluz e no Instituto de Arquivos Nacionais/Torre do Tombo, e investigador no Instituto de Investigação Científica tropical – Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga.
Autor de diversas publicações em revistas da especialidade portuguesas e estrangeiras, em livros de coordenação diversa e artigos científicos apresentados em congressos nacionais e internacionais.
Autoria do cartaz e banner: Francisco Brito (CIDEHUS.UÉ)