(Archivoz) Não poderia deixar de começar por destacar o seu extraordinário e inspirador percurso, em que conciliou a vida académica com a de investigação, tendo estado à frente de vários projetos de investigação na área da engenharia biológica e biotecnologia, chegando a professora catedrática do Departamento de Biologia Vegetal da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). Gostaria que começasse por nos dar conta das razões que a levaram a seguir biologia na universidade e se sempre quis ser bióloga.
(Maria Salomé Soares Pais) As origens marcam as escolhas. O Homem é ele próprio e a sua circunstância José Ortega y Gasset (1883-1955). Penso que mais do que encontrar razões para a minha opção, terei de assinalar a circunstância de ser originária de uma das regiões do País e de uma aldeia onde eu e a minha família eramos parte integrante da natureza, ou seja podíamos usufruir da natureza em equilíbrio onde a paisagem variava com as estações do ano, cada uma com as suas características próprias e de acordo com as quais podíamos apreciar a beleza das plantas e animais, o fascínio da neve e a convivência humana com diferentes pessoas cada uma delas que mais instruída ou menos instruída, possuía uma enorme riqueza intrínseca. Foi no berço da minha Família sempre atenta aos valores individuais e à salvaguarda da natureza que fui crescendo e me habituei a observar as plantas de que os animais se alimentavam ou os rochedos onde se abrigavam que fui descobrindo a beleza da vida e fui questionando sobre os porquês do comportamento dos animais que eu insistia em proteger ou das plantas e árvores que me fascinavam pela beleza das suas flores e frutos que evitava colher por julgar estar a danificar a planta que os tinha produzido. Devia ter os meus 6 anos e muitos sustos fiz apanhar à minha mãe ao aparecer em casa algumas vezes inanimada ao colo da minha empregada por ter caído de uma árvore onde tinha detetado ninhos de pássaros que vigiava atentamente para me assegurar de que as águias não comiam os ovos e que veria os passarinhos esperando de bico aberto pelo alimento até que mais tarde voariam independentes. Tinha um fascínio pelas plantas, ora observando árvores frondosas e enormes como eram os castanheiros ora dando-me conta de delicadas plantas anuais cujas flores enfeitavam os campos e despertavam a minha curiosidade. Que estranho me parecia ver vistosas flores que abriam pela manhã e fechavam ao por do sol como é o caso da chamada Bons dias (Ipomoea acuminata). Enfim tantas outras vivências da minha infância teriam sido responsáveis pelo meu crescente interesse pela natureza e pela vida que não sabia explicar e que me colocava permanentemente questões. Penso que à medida que fui crescendo me fui sempre questionando sobre a vida que me rodeava e terá sido este questionamento responsável pela escolha da Biologia e mais tarde da Biologia vegetal na minha carreira universitária como Professora e Investigadora.
(Archivoz) O seu notável trajeto científico evidencia especial interesse pelos avanços científicos internacionais, com destaque para o campo da biologia celular vegetal. Nesse sentido, acompanhou a evolução da biotecnologia em Portugal, tendo um papel bastante ativo na criação e consolidação de um programa de biotecnologia vegetal. Quando é que surgiu o seu interesse por esta área?
(Maria Salomé Soares Pais) As escolhas têm sempre uma lógica mesmo subconsciente. Como disse atrás sempre tive um grande fascínio pelas plantas e em particular pela compreensão dos processos subjacentes ao desenvolvimento das plantas enquanto ser vivos. Ora na segunda metade do séc. XX a compreensão desses processos passava muito pelos avanços do conhecimento sobre a célula animal e vegetal e estávamos num período muito rico de informação sobre a estrutura da célula animal e vegetal. Isto fez com que tivesse enveredado pela área da Biologia Celular de Plantas, área para a qual direcionei o meu primeiro Laboratório e me envolvi na criação de um Centro de microscopia eletrónica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Foi nesta área que preparei a minha dissertação de Doutoramento sobre a Ontogenia de organitos celulares no decurso do desenvolvimento das peças florais de Ophrys lutea Cav. (Orchidaceae) uma orquídea terrestre espontânea em Portugal. Devo dizer que o interesse pelo estudo destas extraordinárias e enigmáticas plantas acompanhou em diversas áreas a investigação que veio sendo realizada no meu Laboratório e está na base do lançamento de uma nova área a Biotecnologia Vegetal. Para responder à pergunta de como surgiu o interesse por esta área tenho de recorrer a uma iniciativa simultânea enquanto já doutorada e, portanto, Professora auxiliar da FCUL, que foi a proposta de alteração do plano de estudos da Biologia nesta Faculdade. Nesta proposta preconizava a criação, pela primeira vez, de disciplinas de opção. Neste contexto e com a convicção da necessidade de compreensão dos processos biológicos subjacentes à produção de compostos naturais pertencentes a diferentes categorias químicas propus a criação de uma disciplina de Biologia da Secreção nos Vegetais. Sem dúvida que a investigação realizada nas orquídeas tinha aqui também algo de dinamizador desta iniciativa. Como é sabido os compostos secundários produzidos pelos tricomas secretores do labelo das orquídeas bem como por uma imensa gama de estruturas secretoras de muitas outras espécies de plantas são particularmente importantes na indústria de perfumaria. Ora estava-se em pleno desenvolvimento de uma nova tecnologia – a cultura in vitro de células e tecidos vegetais-. Esta tecnologia tinha como objetivo a cultura de plantas em ambiente controlado e também a cultura de células in vitro – em larga escala, em fermentador. Qualquer destas abordagens era particularmente importante quer para a propagação em larga escala de orquídeas quer para a obtenção dos tão importantes aromas para a indústria de floricultura. Com este desiderato em mente rumei de novo a França, desta vez ao Laboratório do Professor Morel uma das figuras de renome mundial na cultura in vitro, com o objetivo de vir a poder propagar em larga escala orquídeas terrestres utilizáveis com a dupla finalidade atrás enunciada e ainda de obter poliploides e recuperar espécies ameaçadas. Deste modo surgiu a capacidade de direcionamento do meu Laboratório para a área de Biotecnologia de Plantas.
(Archivoz) Percurso científico de excelência absoluta que culminou, em termos académicos, no doutoramento em Paris, na École Normale Supérieur…
(Maria Salomé Soares Pais) O percurso profissional, científico ou outro depende das bases em que se alicerça. O meu percurso científico não teria sido possível se não tivesse encontrado um Professor extraordinário na École Normale Supérieure em Paris, o Professo Roger Buvat, renome mundial na descoberta de muitos organitos da célula vegetal que, recebendo o meu pedido para ser meu orientador de Doutoramento prontamente me recebeu em Paris e me respondeu que tinha o laboratório muito cheio, mas ia encontrar um lugar para mim. Com ele aprendi a beleza da ciência, mas acima de tudo o valor e a exigência de rigor e de ética no exercício da ciência e da transmissão do conhecimento. Está sempre na minha memória este Professor de grande estatura que tive o privilégio de encontrar. Com este meu forte início na área da Biologia Celular de plantas, e empenhada no acompanhamento dos desenvolvimentos científicos mundiais vim mais tarde a vocacionar o Laboratório para uma área em pleno desenvolvimento, a biologia molecular de plantas e o melhoramento vegetal. Não posso deixar de referir o grande incentivo que recebi do Prof. Jeff Schell, então diretor do Max Planck Institut de Colónia com quem mantivemos uma excelente colaboração.
(Archivoz) Ao longo da sua notável carreira recebeu vários prémios, reflexo de toda uma vidada dedicada à ciência. Fale-nos um pouco sobre estes importantes reconhecimentos.
(Maria Salomé Soares Pais) O empenho profissional, o rigor e a ética trazem sempre reconhecimento mais cedo ou mais tarde. Quando se dedica uma vida à ciência e ao ensino porque se gosta porque foi esse o seu ideal de vida não é difícil ter como objetivo fazer o melhor possível de modo a ser competitivo não apenas a nível nacional, mas também internacional. Foi sempre esta postura que me norteou e tentei incutir nos meus discípulos e colaboradores. Penso que graças ao envolvimento de mim própria e daqueles que me deram o privilégio de estar comigo como estudantes de licenciatura e sobretudo de mestrado e doutoramento, o valor do trabalho produzido no meu laboratório nas diferentes áreas em que esteve envolvido desde a biologia celular à biotecnologia de plantas e à biologia molecular foi reconhecido através da atribuição de diferentes distinções nomeadamente:
Chevalier dans l’ordre des Palmes Académiques – Governo Francês (1979)
Who is whom in the World (1997)
Prémio da melhor Conferência no Congresso sobre Gametic Embryogenesis realizado na Finlândia (1998)
Outstanding Professional Award – ABI – USA (2001)
American Order of Merit (Representing Portugal) – ABI – USA (2009)
Woman of the Year (Representing Portugal) – ABI – USA (2009)
Prémio Corticeira Amorim (Best Science) – (2010)
Comendador da Ordem do Infante D. Henrique (2015)
Membro Honorário da Ordem dos Biólogos (2016)
Medalha de Mérito Científico (2023)
(Archivoz) É Presidente da Comissão Diretiva do Instituto de Altos Estudos da Academia das Ciências de Lisboa, de que foi secretária-geral durante alguns mandatos, instituição criada em 1779, que ocupa o antigo Convento de Jesus da Ordem Terceira de São Francisco. O que nos pode dizer das razões que presidiram à criação deste Instituto, da sua missão e objetivo principal, mas também das suas atividades, desta notável instituição, que sob a sua liderança, se tornou uma referência científica em Portugal, fomentando a colaboração entre instituições nacionais e internacionais?
(Maria Salomé Soares Pais) Servir uma Instituição de Ciência para a ciência e a comunidade é um privilégio. Foi um período extraordinariamente gratificante durante o qual, como Secretária-geral, assumi o compromisso de contribuir para o cumprimento dos objetivos desta prestigiada instituição, não só no que respeita à valorização do seu património material como também no empenho para a sua credibilidade a nível nacional e internacional. No que refere à valorização do património material, foram implementadas ações consentâneas com os deveres do Secretário-geral consignados nos Estatutos da Academia das Ciências. Com o intuito de promover credibilidade a nível nacional e internacional tentamos promover a participação ativa em reuniões do EASAC (European Academies Scientific Advisory Committee) e da ALLEA (All European Academies) em que a Academia das Ciências de Lisboa esteve representada e participou na elaboração de documentos de opinião sobre temáticas científicas relevantes e de interesse a nível mundial. Saliento um dos temas chamando a atenção para o problema das doenças de plantas no contexto das mudanças globais, tema por mim sugerido e imediatamente aceite para elaboração do referido documento que foi depois apresentado e discutido no Parlamento Europeu, comissão de Agricultura e Florestas. Poderia ainda referir tantas outras iniciativas, mas não o farei para poupar tempo ao eventual leitor. É com satisfação que saliento a obtenção da avaliação máxima para a ACL, atribuída pelo Ministério da tutela após apresentação anual dos relatórios de atividade. Tenho a convicção de que deixei uma obra inacabada, mas regozijo-me por ter servido o melhor que pude a Academia das Ciências de Lisboa uma instituição que continuará a perdurar durante séculos sem interrupção como tem acontecido até aqui e continuará a merecer o respeito pelos seus pares e pelos que a seguem.
(Archivoz) Que informação nos pode dar relativa ao Seminário dos Jovens Cientistas (SJC), criado pela Academia das Ciências de Lisboa em 2010, e os vários ciclos que já promoveu, bem como os que atualmente estão em curso?
(Maria Salomé Soares Pais) A excelência e o mérito devem ser incentivados por isso reconhecer os jovens que se distinguem é um dever. O seminário de Jovens Cientistas foi criado em 2010 no âmbito do Instituto de Altos Estudos da ACL com o objetivo de dinamizar a sua atividade e em particular de ligar à ACL jovens membros altamente promissores da comunidade científica com atividade relevante. Estes jovens cientistas escolhidos dentre investigadores com idade compreendida entre os 30 e 40 anos devem ser detentores de um CV académico e profissional com reconhecimento nacional e internacional. Após o período de permanência na ACL estes membros do Seminário são substituídos por outros por iguais períodos de tempo. Na sequência da revisão dos Estatutos da ACL o Seminário de jovens Cientistas passou a ter individualidade própria sob a responsabilidade de uma comissão diretiva constituída por um Presidente e dois Vogais um da Classe de Ciências e outro da classe de Letras.
(Archivoz) E sobre a Cátedra Unesco em Educação e Ciência para o Desenvolvimento e Bem-estar Humano (EDUWELL), de que é coordenadora responsável, que tem como Instituição de Acolhimento a Universidade de Évora e como Instituição de Execução a Academia das Ciências de Lisboa?
(Maria Salomé Soares Pais) O conhecimento é um marco fundamental para a valorização individual o respeito mútuo e a prática de tolerância, promovendo o diálogo intercultural indispensável à paz. No âmbito do Instituto de Altos Estudos e respondendo aos anseios de estudantes e quadros de diferentes Países falantes do Português concebi a cátedra EDUWEL (Educação e Ciência para o Desenvolvimento e bem Estar Humano) aprovada pela UNESCO e em funcionamento desde fevereiro de 2021. O objetivo desta Cátedra é promover uma cultura baseada no conhecimento, pilar fundamental para o desenvolvimento sustentável baseado em valores e práticas de respeito mútuo e tolerância essenciais para alcançar uma cultura de paz através do diálogo intercultural. Decorrido este tempo tenho um enorme prazer em dizer que está em curso o quarto curso de pós-graduação com um extraordinário envolvimento dos alunos e dos Professores que abraçaram este projeto e a quem aproveito para deixar aqui um profundo agradecimento.
(Archivoz) No seio do Instituto de Altos Estudos foi criado um outro instituto, denominado Instituto de Estudos Avançados para Seniores (IEAS), equiparável a uma universidade para seniores, que viria a acrescentar na sua denominação Adriano Moreira, como homenagem ao seu dinamizador, quando o Professor fez 90 anos. O que nos pode dizer sobre o IEAS?
(Maria Salomé Soares Pais) Num mundo altamente competitivo e imprevisível é fundamental investir na formação contínua da população de modo a permitir uma atualização permanente sobre os desenvolvimentos científicos e tecnológicos com que a sociedade está confrontada. Tal obriga ao aperfeiçoamento e otimização das competências adquiridas e ao desenvolvimento de novas que permitam enfrentar novos desafios ou tão só ter acesso a informação atualizada sobre o conhecimento científico e cultural gerado a nível mundial. A formação em qualquer das etapas da vida proporciona uma maior participação, cooperação, solidariedade, coresponsabilidade e justiça social. É uma condição essencial para o desenvolvimento pessoal e muito em particular para o progresso social, económico, tecnológico e cultural de qualquer sociedade. Constitui uma oportunidade para reduzir as desigualdades, promover a inclusão e proporcionar o desenvolvimento e bem-estar humano. A par do Seminário de Jovens Cientistas foi criado um movimento destinado ao enriquecimento em diferentes áreas de pessoas que pretendam aumentar o seu conhecimento. Chamou-se-lhe Instituto de Estudos Académicos para seniores por pretender atingir aqueles que com mais idade pretendessem aumentar a sua literacia científica, literária ou cultural. Integrava-se, na altura, num movimento de envelhecimento saudável permitindo aos que com idades superiores a 50 anos tivessem oportunidade e pretendessem aumentar o seu conhecimento e poderem ser mais interventivos na Sociedade. A frequência das atividades programadas englobava frequentemente pessoas com idades inferiores a 50 anos e por vezes mesmo jovens estudantes universitários pelo que esta designação foi considerada redutora e foi-lhe dado o nome de Adriano Moreira aquando da homenagem ao Professor Adriano pelos seus 90 anos, atendendo ao seu enorme envolvimento na concretização desta iniciativa do IAE.
(Archivoz) Um tema incontornável, desde meados de março de 2019, e que, infelizmente, volta a estar na ordem do dia, é o novo coronavírus (SARS-CoV 2) e a COVID-19. Na qualidade de Secretária-Geral da Academia das Ciências de Lisboa, quais foram os grandes desafios que enfrentou e que estratégias foram desenvolvidas para mitigar o impacto desta conjuntura tão adversa, no que respeita à organização do trabalho interno, do atendimento aos utilizadores e na difusão da informação?
(Maria Salomé Soares Pais) As mudanças globais comprometem a saúde das plantas, dos animais e do homem. Epidemias desaparecidas e outras emergentes surgirão o que implica vigilância e adaptação. Aprender com o passado ajuda a preparar o futuro. Sem dúvida que o surgimento desta pandemia provocou constrangimentos desde logo pelo confinamento. Algumas das atividades, nomeadamente as que implicavam deslocações no País ou no estrangeiro foram canceladas, outras como a abertura oficial da Cátedra EDUWELL também teve de ser adiada. No entanto a atividade da ACL em particular a realização das sessões ordinárias só foi interrompida durante o período em que não havia acesso ao sistema online ZOOM, ou seja uns escassos meses. As sessões ordinárias de 5ª feira foram retomadas em maio e fazendo uso da capacidade encontrada usando os meios digitais ao alcance, foi concebida uma visita virtual à ACL feiras que podia ser seguida na página da ACL às quartas e se encontra disponível na página Web. Outra iniciativa para dar a conhecer o excelente museu científico designado Museu Maynense foi a realização de uma exposição digital sobre a coleção da exposição filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira que também se encontra na página da ACL na área Exposições digitais, juntamente com uma outra sobre modelos anatómicos. Apraz-me ainda assinalar que o IAE levou a cabo a produção de um documento sobre Pandemia sars-cov-2: do vírus, à patogenia, à epidemiologia, à formalização dos dados, às questões éticas — uma visão, no contexto de pandemias do passado, que contextualizam a atual. José Rueff (Coordenação), Jorge Soares, José Pereira Miguel, Fernando Carvalho Rodrigues, disponível na página da ACL.
(Archivoz) Quando aceitou ser secretária-geral da Academia das Ciências de Lisboa, um dos seus objetivos era dar a conhecer esta instituição ao público em geral, muito para além dos académicos. Pensa que esse propósito foi alcançado?
(Maria Salomé Soares Pais) A vanglória é má conselheira. Em qualquer que seja a função, o desempenho depende de aprendizagem, compromisso, flexibilidade mental, autonomia, honestidade e lealdade. Fiel à máxima de Fedro adotada pela Rainha D. Maria II aquando da fundação da Academia Real das Ciências no dia 24 de dezembro de 1779, que diz Nisi utile quod facimus stulta est gloria – Se o que fizeres não for útil a glória será vã tentei como Secretária -geral contribuir o melhor que pude e soube para dar a conhecer e enaltecer o valor da Academia das Ciências de Lisboa no País e no Estrangeiro bem como o seu contributo inquestionável para a promoção da ciência e da cultura com rigor e permanente atualidade tendo em vista a capacitação da sociedade em geral que lhe permita atuar de modo consciente e informado sobre diferentes aspetos e questões colocadas que reclamam maior informação obrigatoriamente rigorosa.
(Archivoz) Por último, caso seja possível, gostaria que nos desse conta dos seus projetos futuros e em curso.
(Maria Salomé Soares Pais) Uma educação inclusiva e equitativa permite adquirir competências necessárias para enfrentar desafios presentes e futuros. O aumento da literacia científica e cultural confere maior capacidade de cidadania interventiva baseada no conhecimento e em valores de respeito e confiança. A literacia científica e cultural promove a colaboração nacional e internacional e a criação de sociedades mais justas e inclusivas recusando qualquer forma de discriminação. Terminado o período como Secretária-geral da ACL fui eleita, em 2020, Presidente do Instituto de Altos Estudos, cargo que assumi sucedendo ao seu anterior Presidente Professor Doutor Adriano Moreira. Abraçava a tarefa hercúlea de cumprir os objetivos deste Instituto fundado em 1933 por Moses Amzalak com o intuito de abrir a ACL à Sociedade, promovendo o aumento da cultura e da literacia científica. Assumi tal compromisso não apenas perante os colegas Académicos, mas publicamente ao escrever um artigo de opinião publicado no Diário de Notícias. Desde então, juntamente com os colegas da Presidência deste Instituto tenho vindo a implementar atividades de âmbito cultural e científico através da realização de ciclos de conferências no âmbito de dois programas:
Programa Ao Encontro da Sociedade
Programa Saber mais Conhecer melhor
Ambos têm como objetivo transmitir conhecimento rigoroso capaz de aumentar a literacia. No primeiro, destinado a participantes com maior nível de conhecimento, são organizados ciclos sobre desenvolvimentos científicos e tecnológicos importantes para a humanidade. O segundo destina-se a um público mais geral, interessado em aumentar o conhecimento nas letras, ciências e artes. Enquanto Presidente do Instituto de Altos Estudos da Academia das Ciências de Lisboa continuarei a defender e a promover o papel determinante deste Instituto para o aumento da Literacia científica e cultural da sociedade portuguesa. Temos a convicção de que o conhecimento permite reduzir as desigualdades, promove a inclusão e o desenvolvimento humano pelo que através da Cátedra UNESCO pretendemos continuar a contribuir para a criação de condições de partilha de conhecimento entre atores dos Países falantes do português. Continuo por isso determinada a prosseguir no cumprimento dos objetivos propostos para o IAE e assim contribuir para o empoderamento e desenvolvimento sustentável através da formação avançada. Certamente que continuarei a acompanhar os desenvolvimentos da ciência e os desafios que se nos colocam num mundo em mudança e aos quais o IAE da ACL terá de estar particularmente atento.
Imagem cedida pela entrevistada.
Entrevistado

Maria Salomé Soares Pais
Presidente do Instituto de Altos Estudos da Academia das Ciências de Lisboa
Doutorada em Biologia, foi Professora Catedrática na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Fundou e dirigiu vários centros de Investigação, privilegiando as áreas de Biologia Celular, Biotecnologia Vegetal e Biologia Molecular de Plantas.
Foi membro de vários programas intergovernamentais e da Comunidade Europeia. Fundou e foi presidente do Centro de Microscopia Eletrónica da FCUL e da Comissão executiva do Centro de Investigação e Formação Tropical. Ao longo da sua carreira académica foi autor /co-autor de mais de 400 artigos científicos e orientou/co-orientou 51 dissertações de doutoramento e 43 de mestrado.
Foi distinguida com: Chevalier dans l’ordre des Palmes Académiques – French Government (1979), Prize of the best Conference in the scientific meeting on Gametic Embryogenesis held in Finland (1998) ; Outstanding Professional Award – ABI – USA (2001) ; American Order of Merit (Representing Portugal) – ABI – USA (2009) ; Woman of the Year (Representing Portugal) – ABI – USA (2009) ; Prémio Corticeira Amorim (Best Science) – (2010) ; Comendador da ordem do Infante D. Henrique (2015) ; Membro honorário da Ordem dos Biólogos (2016), Medalha de Mérito Científico (2023).
É membro efetivo da Academia das Ciências de Lisboa (ACL). Exerceu o cargo de Secretária-geral da ACL desde 2011 a 2021. Atualmente é Presidente do Instituto de Altos Estudos da Academia das Ciências de Lisboa.
Entrevitador

Paulo Jorge dos Mártires Batista
Editor de conteúdo
Técnico Superior no Arquivo Municipal de Lisboa, de Professor Convidado no Curso de Especialização Arquitetura e Cultura Visual em Lisboa
Doutor em Documentación (Universidad de Alcalá de Henares – UAH), Mestre em Ciências da Informação e da Documentação (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa – FSCH-UNL), Máster em Documentación (UAH) e Diploma de Estudios Avanzados de Doctorado em Bibliografia y Documentación Retrospectiva en Humanidades (UAH), Pós-graduado em Direito da Sociedade da Informação (Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa) e em Ciências da Informação e da Documentação – Biblioteconomia e Arquivística (FCSH-UNL), Especialização em Boas Práticas em Gestão Patrimonial e em Ciências da Informação e da Documentação – Arquivística (FCSH-UNL), Licenciado em História (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa).