Entrevistámos Filipe Bettencourt, Diretor do Museu de Fotografia da Madeira – Atelier Vicente’s.

(ARCHIVOZ) Fale-nos de como foi criado  o Museu de Fotografia da Madeira – Atelier Vicente’s, da importância de Vicente Gomes da Silva para a fotografia em Portugal, e do fim da sua atividade, à passagem de um estúdio fotográfico a museu, o mais antigo do país, onde é que se encontra localizado, o seu enquadramento orgânico, missão, visão e tudo o mais que considere para a sua melhor compreensão.

(Filipe Bettencourt) O Museu de Fotografia da Madeira – Atelier Vicente’s, foi criado como entidade museológica a 22 de março de 1982, então como “Photographia – Museu “Vicentes”, após a compra do espólio do atelier “Photographia Vicente” a 13 de junho de 1979, pelo Governo Regional da Madeira, à então proprietária do mesmo, a jornalista Maria Mendonça.

A importância de Vicente Gomes da Silva para a fotografia em Portugal, deve-se ao facto de ter sido um dos pioneiros desta nova arte no país e dos primeiros, senão o primeiro, fotógrafo português nascido fora do retângulo continental e por ser dos poucos fotógrafos a nível nacional, e quem sabe, a nível mundial, que criou uma dinastia de fotógrafos que mantiveram a casa fotográfica na família por mais de cem anos.

A casa fotográfica “Photographia Vicente”, muito devido a dificuldades económicas, foi alugada e vendido o todo o seu espólio a uma empresa detida pela jornalista Maria Mendonça, a 15 de março de 1972. A 13 de junho de 1979, esse mesmo foi vendido ao Governo Regional da Madeira, que continuou a alugar o prédio até o adquirir a 3 de agosto de 2004.

O Photographia – Museu “Vicentes” esteve então aberto de 1982 a 2014, apesar de alguma intermitência na sua abertura ao público, tendo sido encerrado a 4 de maio de 2014, reabrindo, já completamente restaurado, como Museu de Fotografia da Madeira – Atelier Vicente’s a 29 de julho de 2019.

O Museu de Fotografia da Madeira – Atelier Vicente`s é tutelado pela Direção Regional da Cultura, da Secretaria Regional de Turismo e Cultura, da Região Autónoma da Madeira. Localizado no Funchal, o edifício onde o museu está atualmente instalado é composto pela antiga residência e estúdio fotográfico de Vicente Gomes da Silva.

O Museu de Fotografia da Madeira – Atelier Vicente’s tem por missão o estudo, preservação, conservação, valorização e divulgação da Fotografia na Madeira.

Localizado na Rua da Carreira, nº 43, Avenida Zarco, nº 21m, 9001–904 Funchal, possui o email mfm.avicentes@madeira.gov.pt e encontra-se acessível no Instagram (@museufotografiamadeira) e no Facebook (facebook.com/mfmvicentes).

(ARCHIVOZ) O Museu de Fotografia da Madeira esteve encerrado ao público, durante 5 anos, para trabalhos de requalificação, segundo li na imprensa, no valor de 1,7 milhões de euros, tendo reaberto ao público em julho de 2019. Pode dizer-nos em que consistiram essas obras? Relacionado com esta questão, penso que estas também devem ser entendidas no âmbito do objetivo de fazer do Museu de Fotografia da Madeira, não só uma referência nacional, mas que contribua para a projeção internacional da Madeira na área museológica. O que nos pode dizer sobre isto?

(FB) As obras consistiram numa total recuperação do edifício, procurando sempre manter o traçado original do mesmo, assim como preservar o atelier fotográfico datado de 1887, aproveitando o resto do edifício, que antes estava vedado ao público, para a abertura de salas de exposição, tanto temporária, como permanente, assim como a criação de uma pequena biblioteca.

As obras de requalificação e todo o projeto museológico idealizado pela Dra. Emília Tavares e a sua equipa foram no sentido de transformar este Museu, caso quase único no panorama dos Museus em Portugal e um antigo atelier fotográfico, fundado há mais de cem anos, numa das referências do estudo e divulgação da fotografia, com especial enfoque no Arquipélago da Madeira.

Também a realização de um Congresso Internacional Bienal sobre Fotografia, organizado sob a égide do Museu de Fotografia da Madeira – Atelier Vicente’s, como já aconteceu no ano de abertura do mesmo em 2019 e que terá outra edição em finais de 2021, ajuda à projeção internacional que se pretende para esta instituição.

(ARCHIVOZ) O Museu de Fotografia da Madeira foi distinguido com o Prémio Museu do Ano 2020, atribuído pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM). O que representa para o Museu de Fotografia da Madeira a atribuição deste prémio e de que modo é que este alterou a perceção e que impacto é que teve junto do público, mesmo considerando os constrangimentos da pandemia?

(FB) O Prémio APOM de Museu do Ano 2020, representou para o MFM-AV uma honra e um orgulho imenso, trazendo uma responsabilidade acrescida, mas por outro lado motivou-nos para tentar fazer ainda melhor.

Em relação ao impacto que teve junto ao público, foi algum, embora devido à pandemia em curso ainda não se possa avaliar com total certeza o peso que este prémio teve junto ao público em geral, pois apesar de um aumento na entrada de público local, falta-nos ainda comprovar qual o impacto que teve no público de Portugal continental.

(ARCHIVOZ) De que forma é que a pandemia afetou, entre meados de março de 2019 e a atualidade, o normal funcionamento do Museu de Fotografia da Madeira? Que estratégias foram, e estão a ser, desenvolvidas nesse sentido, com o obetivo de mitigar os seus efeitos?

(FB) A pandemia afetou-nos, como penso que em todos os espaços museológicos, de forma dura, pois a frequência de público diminuiu imenso, só para lhe dar uma ideia, passamos de uma frequência de 1500 entradas no mês de fevereiro de 2020, para uma média de 100 pessoas a partir de junho de 2020, com alguns picos, principalmente no verão de 2020, mas sempre com tendência para as poucas centenas de visitantes, para além do encerramento a que fomos sujeitos entre março e maio de 2020.

Felizmente não encerramos como em Portugal continental durante este segundo confinamento, o que nos permitiu manter sempre uma atividade regular.

De qualquer forma, para nos mantermos sempre ligados ao nosso público, delineamos uma estratégia, em conjunto com a tutela, que passou e passa, por uma forte presença nas redes socias, quer no Facebook, quer no Instagram, com publicações diárias com fotografias do nosso espólio, assim como algumas atividades que podem ser realizadas online, através do nosso Serviço Educativo, bem como a divulgação das atividades que têm lugar no Museu, como espaço físico.

(ARCHIVOZ) Qual o acervo, fotográfico e com ele relacionado, que se encontra neste Museu, e outros núcleos e materiais aqui depositados, mas também para além da fotografia?

(FB) Atualmente, e devido a uma programada política de aquisições com base na compra e em diversas doações, o museu tem um extenso e valioso espólio, proveniente não só da coleção Vicente, como também de outros fotógrafos profissionais e amadores, como: João António Bianchi (Visconde Vale Paraíso) (1862-1928); Major Charles Courtnay Shaw (1878-1971); Gino Romoli (1906-1982); Aluízio César Bettencourt (1838-1895); João Francisco Camacho (1833-1898); Perestrellos Photographos (1890-1998); Augusto João Soares (1885-1970); Francisco João Barreto (1877-1934); Álvaro Crawford Nascimento Figueira (1885-1967); Alexander Lamont Henderson (1838-1907); Joaquim Augusto de Sousa (1853-1905); João Anacleto Rodrigues (1869-1948); Foto Figueiras (1930-1989); Foto Arte (1948-?); Foto Joaquim Figueira (1946-1992); Russel Manners Gordon (3.º Visconde e 1.º Conde Torre Bela) (1829-1906); Artur Campos (1943-2020); Carlos Fotógrafo (1957-2002); Alberto Camacho Brandão (1884-1945); Foto Sol (1951-1980); João António Filipe Pestana (1929-2017); José Raphael Basto Machado (1900-1966).

Possui também um núcleo de cinema, baseado essencialmente em filmes documentais produzidos por fotógrafos presentes no espólio e no fundo da Delegação de Turismo da Madeira

(ARCHIVOZ) Acervo que, para além do espólio original, tem vindo a ser enriquecido com outras aquisições e doações de coleções de fotógrafos profissionais e de amadores. O que nos pode revelar sobre esta questão?

(FB) Desde a nossa abertura como Museu de Fotografia da Madeira – Atelier Vicente´s, a 29 de julho de 2019, que nos têm procurado para proceder a doações. Basicamente, são doações de material fotográfico, onde se incluem máquina fotográficas, projetores, tanto de diapositivos, como de cinema, material de laboratório, entre outros, mas também de algumas provas fotográficas, tanto de amadores, como de algumas antigas casas fotográficas.

(ARCHIVOZ) Qual a documentação mais consultada e a que origina mais pedidos de reprodução? Por quem e para que fins? Qual o número médio anual de utilizadores (antes e durante a fase de pandemia)?

(FB) Infelizmente não posso responder a essa pergunta, pois como o espólio fotográfico do Museu se encontra em depósito no Arquivo Regional da Madeira, são eles quem se encarregam dessas funções.

Considerando a importância crucial da difusão da informação, diga-nos como é efetuada a disponibilização da informação à responsabilidade do Museu de Fotografia da Madeira, como é que é possível aceder a esta, presencialmente e à distância

(ARCHIVOZ) Considerando a importância crucial da difusão da informação, diga-nos como é efetuada a disponibilização da informação à responsabilidade do Museu de Fotografia da Madeira, como é possível aceder a esta, presencialmente e à distância?

(FB) Em relação à informação que é da responsabilidade do MFM-AV, a mesma é efetuada através, como já havia referido, das nossas redes sociais.

Em relação às fotografias pertencentes ao acervo, uma vez que o mesmo se encontra em depósito no Arquivo Regional, são eles quem disponibilizam as mesmas, sempre em coordenação com este Museu, através do seguinte site: Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira – Archeevo.

(ARCHIVOZ) Para terminar, como é que imagina o Museu de Fotografia da Madeira daqui a 20 anos, o que espera, ou gostaria que ele se tornasse?

O que espero que o Museu se torne daqui a 20 anos?

Sinceramente, na maior referência nacional do estudo e divulgação da fotografia analógica e, modéstia à parte, no Museu mais visitado da Madeira.

Que seja um Museu que consiga atrair cada vez mais estudiosos e entusiastas da fotografia.

E penso que, com perseverança e foco naquilo que nos distingue e caracteriza, iremos alcançar esse desiderato ainda antes de completar esses 20 anos.

Imagem cedida pelo entrevistado.


Entrevista realizada por: Paulo Jorge dos Mártires Batista

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