Na sequência da 28.ª reunião do Conselho Intergovernamental Iberarchivos/Iberarquivos, em Montevideu, foi tornada pública a 20 de abril do presente ano a aprovação da candidatura submetida pela Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima para apoio ao tratamento do seu arquivo histórico. Trata-se de uma de duas candidaturas portuguesas aprovadas pela entidade para 2024, sendo a outra referente a um projecto da Fundação Mário Soares e Maria Barroso.

O dossier de candidatura foi preparado por Cristiana Vieira de Freitas, responsável pelo Arquivo Municipal de Ponte de Lima, e Miguel Ayres de Campos Tovar, historiador e investigador na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. O projecto foi apresentado sob o título “Malhas que o império tece: entre o local e o global no arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Ponte de Lima (séculos XVI a XX)”, e tem um prazo de execução de oito meses. O seu fito é a descrição do acervo documental da instituição produzido desde as origens até 1982; este trabalho será complementado pela digitalização do mesmo mediante parceria já concertada com o Município de Ponte de Lima e o seu arquivo municipal. A documentação digitalizada, que se estima venha a orçar na região das 50.000 imagens, ficará integralmente disponível ao público através da plataforma digital desta última instituição, e virá seguramente a representar um contributo precioso para a investigação e para a memória regional.

O programa de cujo apoio ora beneficiará a Misericórdia limiana foi criado em 1998 no âmbito das Conferências Ibero-americanas de Chefes de Estado e de Governo, no sentido de estimular a cooperação arquivística entre as nações aderentes, promovendo a proteção e a difusão do património documental ibero-americano, nomeadamente através da concessão de ajudas a projetos arquivísticos. Em atenção ao âmbito e foco da entidade, que privilegia arquivos susceptíveis de fortalecer laços de amizade e mútua compreensão entre países participantes, a candidatura apresentada destacou a forte ligação da irmandade ao universo brasileiro e a representatividade de limianos para aí migrados entre os seus beneméritos e legatários — eloquente, afinal, da densa interpenetração entre o Minho e a América Portuguesa entre os séculos XVI e XIX.

Falta apenas referir que a prossecução do projecto passa também pela realização de uma jornada de estudos centrada nas misericórdias e seus arquivos, pela realização dum ciclo de exposições e pela publicação dum livro. A actividade cultural da Misericórdia intensifica-se também, a partir do presente ano de 2024, com o lançamento do primeiro volume duma revista científica por si apadrinhada: a publicação “Forum limicorum: caderno de estudos limianos”, concebida como ponto de encontro entre a academia nacional e internacional e a boa investigação local ao serviço do conhecimento socio-humanístico aprofundado da região.

 Imagem cedida por Miguel Ayres de Campos Tovar

Miguel Ayres de Campos Tovar

Miguel Ayres de Campos Tovar

Miguel Ayres de Campos Tovar é licenciado em História da Arte e mestre em Estudos Medievais pela Universidade de Oxford, e doutorado em História da Arte Medieval pelo Courtauld Institute of Art. Seu projeto de pesquisa de doutorado recebeu uma bolsa integral do Consortium of the Humanities and the Arts in South-East England (2015-2019), e sua pesquisa de mestrado foi apoiada por uma bolsa do Arts and Humanities Research Council (2011-2012).

É investigador na área dos Estudos Medievais, com particular enfoque nas culturas visuais anglo-saxónicas e ibéricas pré-1200, na arte românica e nas representações medievais da natureza, tendo também trabalhado como especialista no mercado da arte. É Investigador Integrado do Instituto de Estudos Medievais da Universidade Nova de Lisboa, e Investigador Associado do ARTIS – Departamento de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Artículo editado por: Alexandra María Silva Vidal

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