Entrevistámos Teresa Costa, Chefe de Divisão na Biblioteca da NOVA Medical School, e Professora Auxiliar convidada no Mestrado em Ciências da Documentação e Informação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

(ARCHIVOZ) Fale-nos um pouco do seu extraordinário percurso formativo e profissional até chegar a Chefe de Divisão na Biblioteca da NOVA Medical School.

(Teresa Costa) Iniciei o meu percurso profissional como Professora de História, porém a instabilidade da carreira docente levou-me ao Curso de Especialização em Ciências Documentais da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 2003. Foi nesse ano que comecei a trabalhar enquanto bibliotecária no Museu Nacional de Arqueologia, onde fiquei até 2005. Nesse ano assumi funções na b-on, Biblioteca do Conhecimento Online, enquanto bibliotecária e mais tarde como gestora da b-on. Entretanto fui ganhando novas competências e em 2008 concluí o meu Mestrado em Ciências da Documentação e Informação também na FLUL e em 2015 terminei o Doutoramento Ciências da Informação e Documentação pela Universidade de Évora.

Em 2020 assumi um novo desafio profissional enquanto Chefe de Divisão de Biblioteca e Documentação na NOVA Medical School, onde me encontro presentemente a exercer funções. Estou muito grata por esta oportunidade, pois após 15 ano na b-on senti que era altura de mudar, pois sentia falta das pessoas, dos utilizadores.

Entretanto, também sou docente no Mestrado em Ciências da Documentação e Informação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa desde 2009, que é algo de que também gosto muito de fazer.

(ARCHIVOZ) Em 2015 doutorou-se em Ciências da Informação e da Documentação, na Universidade de Évora, com a tese O impacto da biblioteca do conhecimento online (B-on) sobre a utilização e a produção científica portuguesas (2000-2010). Quais foram as principais conclusões a que chegou na investigação que desenvolveu?

(TC) O rápido crescimento da informação e dos periódicos científicos eletrónicos em conjugação com a política de aumento de preços por parte dos editores para este tipo de assinaturas e os novos modelos de licenciamento (big deal) favoreceram a constituição de consórcios de bibliotecas e Portugal não foi exceção. Em 2004, com o surgimento da b-on, a comunidade académica e de investigação nacional passou a dispor de uma ferramenta fantástica de acesso à informação de qualidade. A b-on trouxe também a democratização desse acesso, pois independentemente da localização geográfica, dimensão ou histórico da instituição todos passaram a ter acesso aos mesmos conteúdos “à distância de um clique”. Ora, tal teve consequências não só no acesso e utilização dos recursos, mas também na produção científica nacional que tem verificado um aumento significativo nos últimos anos.

(ARCHIVOZ) A Biblioteca da NOVA Medical School possui um vasto acervo. Quais são os principais fundos e coleções que integra, e como se encontram organizados?

(TC) Sendo uma Faculdade de Medicina, o fundo caracteriza-se sobretudo por integrar recursos no âmbito das Ciências Medicas, Biomedicina e Ciências da Nutrição. Todos os anos procuramos dar resposta aos programas e bibliografias das várias unidades curriculares, adquirindo monografias recomendadas pelos docentes.  Além disso temos assinaturas de algumas revistas quer em papel que em formato eletrónico. Temos ainda acesso à b-on e assinamos plataformas e bases de dados específicas de apoio ao ensino médico com ebooks, casos clínicos, vídeos de anatomia, testes de conhecimento, entre outros. Sendo uma instituição de ensino superior, há ainda lugar na nossa coleção, para as teses e dissertações apresentadas pelos alunos. Em 2020 estes recursos passaram a ser exclusivamente em formato eletrónico, contudo continuam a ser registados no catálogo e depositados no repositório institucional.

Para além disso é frequente a oferta e ou doação de espólios por parte de antigos docentes e antigos alunos. Posso destacar as doações dos Professores Celestino da Costa (pai e filho), Professor Jacinto Simões e Professor António Saragoça. As monografias estão classificadas com base na classificação da National Library Medicine (NLM) e a indexação feita com recurso ao Medical Subject Headings (MeSH). O acesso às mesmas é livre estando a sala de leitura organizada pelas grandes áreas/categorias da Medicina.

(ARCHIVOZ) Um tema incontornável, desde meados de março de 2019, e que, infelizmente, continua na ordem do dia, é o novo coronavírus (SARS-CoV 2) e a COVID-19. Como Chefe de Divisão na Biblioteca da NOVA Medical School, quais têm sido os grandes desafios que tem enfrentado, ao nível da organização do trabalho interno, do atendimento ao público e da difusão da informação?

(TC) Tem sido de facto um desafio, sobretudo ao nível da gestão dos espaços. A sala de leitura tem capacidade para 120 utilizadores e de momento apenas temos disponível 56. Porém, convertemos outros espaços, como a sala multimédia que habitualmente tem 16 computadores, convertemo-la em espaço de estudo acomodando assim mais utilizadores.

O horário de funcionamento é das 9h às 19h30, porém com interrupção das 13h às 14h para higienização dos espaços.

Quanto há equipa, no total são 10 colaboradores que foram distribuídos por duas equipas espelho que asseguram o funcionamento da biblioteca até às 17h30. A partir dessa hora temos o apoio de um conjunto de 12 alunos colaboradores que nos ajudam no alargamento do horário.

O acesso à biblioteca, neste momento, é exclusivo aos membros da comunidade NMS|FCM (não estão autorizados utilizadores externos), sendo necessária marcação prévia que pode ser feita por email ou formulário disponível no site da biblioteca.

Passámos a fazer mais formação online, via zoom, e tem corrido bem.

Também o facto da biblioteca disponibilizar o acesso a várias fontes de informação online tem permitido aos utilizadores continuarem a aceder aos recursos de forma remota. Aliás, a utilização dos mesmos aumentou significativamente no último ano.

(ARCHIVOZ) Um dos últimos artigos que publicou, neste caso em colaboração com Maria Margarida Vargues, na Revista Ibero-Americana de Ciência da Informação, intitula-se Tendências da investigação científica nas ciências da informação e documentação em Portugal: 2003-2018.  Tendo em conta o mesmo, a que se junta a sua notável experiência docente no Mestrado em Ciências da Documentação e Informação da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, quais pensa serem as tendências atuais de investigação em Ciência da Informação em Portugal e as que urge desenvolver?

(TC) No artigo que fiz com a Margarida tivemos como principal fonte de informação o RCAAP – Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal (www.rcaap.pt) e os vários repositórios das instituições com formação na área da ciência da informação, ou seja, analisámos os trabalhos dos cursos com formação exclusiva na área da Ciência da Informação, mas também de outras instituições que apesar de não terem formação em Ciência da Informação ofereciam cursos que se “apropriaram” de objetos de estudo no âmbito desta Ciência, e em cuja denominação incluísse um dos seguintes termos: Arquivística, Arquivo(s), Biblioteca(s), Biblioteconomia, Documentação e Informação. Foi um trabalho muito interessante e permitiu destacar temas como a Literacia da Informação, a Gestão do Conhecimento, a Organização da Informação e mais recentemente as questões das Tecnologias da Informação e dos Repositórios e Acesso Aberto. Como alguns dos trabalhos eram de cursos no âmbito da Educação e Bibliotecas Escolares, a questão da Promoção da Leitura também nos mereceu algum destaque. Porém, ficou igualmente claro que a Ciência da Informação apesar de ter um âmbito específico de trabalho e investigação,  denota, cada vez mais ser  uma área interdisciplinar, abrangendo áreas distintas do conhecimento  que se cruzam como a Linguística, a Educação, a Sociologia, a Psicologia, o Jornalismo, a Comunicação, a Informática, entre outras.

(ARCHIVOZ) Por último, no seu entender, quais são os principais desafios e oportunidades que se colocam aos profissionais da informação na atualidade?

(TC) Os desafios são muitos, sobretudo ao nível das tecnologias de informação e comunicação que assumiram um papel irreversível e incontornável na forma de agir, de perceber e lidar com a informação, não só no seu acesso, mas também no seu tratamento e conservação/preservação. Além disso, a situação da pandemia obrigou-nos a adaptamo-nos e a assumirmos o online e o remoto como essenciais, pelo que a formação/qualificação dos profissionais da informação ao longo da vida assume-se como fundamental, pois importa manter competências base, mas é igualmente importante a nossa capacidade de adaptação e de aprendizagem aos desafios da atualidade.

Imagem cedida pelo entrevistado.


Entrevista realizada por: Paulo Jorge dos Mártires Batista

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